Vamos iniciar a discussão da vulnerabilidade, refletindo sobre a vulnerabilidade social e suas consequências na promoção da saúde e prevenção de doenças. A partir do texto do blog desta semana serão abordados os temas da vulnerabilidade individual e programática e os aspectos vacinais da COVID19.
Segundo AYRES et al., 2003, a vulnerabilidade social incorpora:
- A condição socioeconômica;
- O acesso à informação e o grau de escolaridade;
- A disponibilidade de recursos materiais;
- A capacidade de organização da sociedade civil;
- As violações aos direitos humanos;
- A discriminação e o preconceito vivenciados pelas minorias;
- Os dogmatismos religiosos;
- As concepções sobre a sexualidade e simetria ou assimetria nas relações de gênero.
A exclusão social de grupos populacionais promove a redução da capacidade de obter, processar e entender as informações em saúde e usar estas informações para tomar decisões apropriadas em relação à sua própria sanidade física e mental e dificulta a adoção de medidas de prevenção contra as doenças e os agravos à saúde.
Delor; Hubert (2000) estabelecem três níveis de entendimento da vulnerabilidade social: trajetória social, interseção ou interação das trajetórias e contexto social.
Conceituam-se como trajetórias sociais os caminhos percorridos por cada indivíduo durante as diferentes fases da vida. A interação é o momento de encontro de uma ou mais pessoas e quando ocorre a interseção de trajetórias de vida. Por último, o contexto social produz influências sobre os momentos, a participação e as formas dos encontros entre os indivíduos. Esses autores argumentam que todos esses elementos acontecem dentro de um processo de construção dinâmica de identidade, que tem o objetivo de manter, expandir e proteger o espaço de vida em que o sujeito é socialmente reconhecido.
São inegáveis os avanços da vacinação no Brasil, mas ainda temos o desafio para garantir a imunidade da população, buscar os faltosos e sensibilizar as pessoas resistentes à vacinação.
E como os serviços de saúde planejam suas ações de vacinação para a reduzir a vulnerabilidade social?
Poderíamos iniciar a reflexão analisando o transtorno que as notícias falsas (Fake News) produzem, compartilhando nas redes sociais a desinformação, causando um grande risco para a saúde pública. Este movimento caracteriza o que denominamos ‘necropolítica’, pois tem um claro interesse de inviabilizar a proteção coletiva e disseminar doenças, muitas vezes causando mortes, como por exemplo, o discurso antivacina. Este estudo você pode acessar em WERMUTH, NIELSSON, TERTULIANO, 2021.
A dificuldade de acesso às unidades básicas de saúde e às unidades volantes, tanto do ponto de vista do acesso, como do horário em que essa vacina está disponível para a população trabalhadora, é um outro fator que precisa ser considerado. As reflexões sobre o acesso aos serviços, ficarão para uma próxima discussão, pois configuram vulnerabilidade programática, ou seja, quando os serviços de saúde vulneram a população.
Poderíamos perguntar: como está o acesso à vacinação para os povos das águas e matas, para a população em situação de rua, para as populações das periferias, da população das zonas rurais, quilombolas e indígenas? Garantir a imunidade dessas populações, exige planejamento estratégico objetivando a equidade ou justiça social, que contemple a Sociedade como um Todo.
Em tempos de internet, redes sociais, aplicativos e outras tantas ferramentas da tecnologia, parece que o acesso está facilitado para propagar a informação. No entanto, o que acontece é que com o avanço da tecnologia também se tem uma grande possibilidade de dificultar a acessibilidade para as pessoas que não possuem acesso a ela ou daquelas que não possuem uma rede de apoio de divulgação da informação. A velha cartolina ainda é muito útil quando se fala em inclusão de quem não está conectado com as novas tecnologias.
Outro fator agravante é a recessão econômica e a inexistência de Programas Sociais bem definidos e constantes para atender as populações vulneráveis.
É importante entender que as vacinas salvam vidas e é necessária uma política de saúde realmente eficiente, que considere todos os determinantes sociais em saúde para que seja alcançada a imunidade de rebanho.
Gisele Cristina Tertuliano, PhD. Professora, Enfermeira e Cientista Social.